Equipe se classificou, mas saldo da primeira fase foi negativo e adversário das quartas de final é o pior possível
Na última terça-feira (2), o Brasil empatou por 1 a 1 contra a Colômbia, na última rodada da fase de grupos da Copa América. O resultado, porém, não traduziu bem o que aconteceu dentro de campo.
A equipe Nestor Lorenzo sufocou a seleção pentacampeã mundial. Teve gol anulado, bola no travessão, defesa de Alisson e um controle de jogo quase que absoluto, ainda que ele não se expresse por meio de uma grande diferença na posse de bola.
O resultado foi ruim e encaminhou a Amarelinha para um confronto difícil nas quartas de final, contra o Uruguai, uma das seleções em melhor fase pelo mundo. No entanto, essa é a menor das preocupações que o pior jogo do Brasil sob comando de Dorival Júnior deixou. A lista abaixo ilustra os outros aspectos que chamam atenção.
1. A certeza sobre João Gomes
João Gomes não é um jogador ruim, longe disso. É um volante de potencial e que pode ser muito útil em determinados aspectos. Pode ser arma importante, por exemplo, para viabilizar o encaixe de Neymar em um momento posterior ou contextos específicos, jogos nos quais o time opte por pressionar alto na maior parte do tempo, como no início da partida contra a Colômbia.
Hoje, porém, essa não é a característica da equipe, nem sua principal necessidade. Há um problema na falta de capacidade do meio-campo não somente em criar chances, mas em controlar a posse, em segurar o ímpeto dos passes verticais e resistir à pressão dos rivais. Como seria normal para um atleta de 23 anos, o ex-Flamengo não parece preparado para desempenhar tais funções.
2. O funcionamento do meio-campo
É importante destacar ainda que João Gomes não é o problema do meio-campo brasileiro. Seria extremamente injusto utilizá-lo para esconder um defeito geral na mecânica do setor. Até porque o trio de bons jogadores, que conta ainda com Bruno Guimarães e Lucas Paquetá, passou pela mesma situação no jogo contra a Espanha.
Os meias do Brasil não seguram a posse e demonstram pouca capacidade de superar a pressão rival. Às vezes, por falta de aproximação, outras por desespero ou por dificuldade de girar sobre os adversários. A todo instante há a intenção de verticalizar, acelerar. É agonizante e precisa ser solucionado. Desde o início do ciclo, Douglas Luiz pede passagem. Ele pode ajudar a resolver a questão.
3. A gestão de Endrick
Dorival “preservou” Endrick sob a suposta ideia de não o queimar. O jovem, que marcou três gols em três jogos consecutivos saindo do banco de reservas sob seu comando, nunca foi titular com a camisa da Amarelinha, nem sequer em amistoso. À época, avisei que esse conservadorismo desnecessário poderia ter efeito colateral e tudo caminha para que isso se confirme.
Sem Vinicius Júnior contra o Uruguai, no jogo de maior pressão e dificuldade do torneio, existe uma certa tendência de que Endrick seja titular. Isso, claro, se o treinador for minimamente coerente com as alterações que vem fazendo durante os jogos. Com a fase ruim do time, o centroavante entrará com certo status de solução dos problemas e certamente se tornará alvo, caso não confirme as expectativas. Era tudo que ele não precisava. Péssima gestão.
4. A predileção por Raphinha
O golaço de falta de Raphinha foi o ponto alto do Brasil no pior jogo da “Era Dorival”. O camisa 11 também teve uma outra cobrança muito perigosa, no segundo tempo. Entretanto, isso não anula a incoerência sobre do retorno à titularidade.
Savinho faz boa Copa América. Entrou bem contra a Costa Rica, teve boa atuação contra o Paraguai e, na fogueira contra a Colômbia, mostrou que tem muito mais capacidade individual que o atleta do Barcelona. Não se trata somente de um atleta de um contra um, mas de alguém que tem mostrado mais tranquilidade para achar passes e rodar a bola. Seu lugar na reserva é inexplicável, ao menos para quem não assiste aos treinos.
5. Substituições
Durante os jogos, Dorival tem demonstrado um apego absoluto a certos valores e um conservadorismo que beira à irritação. A manutenção da dupla Bruno Guimarães e João Gomes até os dez minutos finais da partida contra a Costa Rica são injustificáveis. Contra a Colômbia, ele tinha nitidamente o temor de sofrer um gol e amargar a eliminação na fase de grupos, por isso manteve o máximo que pôde um trio no meio.
Fora isso, há ainda outras questões: por que Douglas Luiz nunca pode jogar junto a Bruno Guimarães? O que justifica tirar Rodrygo e/ou Vinícius Júnior, os principais expoentes do ataque do time? São muitas perguntas sem respostas e esse início de trabalho tende a ficar ainda mais conturbado.